A redução das emissões de carbono ocorrida devido à pandemia fez-se à custa de restrições sociais e económicas sem precedentes. O desafio atual está em alcançar um desenvolvimento económico robusto, sem retomar o mesmo nível de emissões anteriores aos da pandemia. O futuro passa por tornar a energia limpa ainda mais atraente para os investidores, abrindo caminho para uma recuperação que acelere a transição energética
A pandemia impôs restrições sem precedentes à atividade social e económica – particularmente na mobilidade – com fortes impactos no uso de energia. O consumo global de energia deve contrair 6% em 2020, a maior queda nos últimos 70 anos.
As emissões globais de carbono reduziram-se significativamente este ano (atingindo o menor nível desde 2010) como resultado das grandes interrupções nas viagens, no comércio e na atividade económica provocadas pela pandemia.
O robusto crescimento económico de 2019, estava longe da redução anual de 6% exigida no Cenário de Desenvolvimento Sustentável da Agência Internacional de Energia (AIE) e que está totalmente alinhada com as metas climáticas do Acordo de Paris.
E a história diz-nos que, infelizmente, após crises económicas passadas, as emissões recuperaram rapidamente à medida que as economias recuperaram também. Embora a crise atual possa ter acelerado algumas mudanças estruturais – como o declínio do carvão na Europa – a queda temporária do uso de energia resultante de restrições em massa à mobilidade está longe de ser suficiente. Políticas governamentais inteligentes e ambiciosas serão necessárias para que os ajustes estruturais sustentados permitam alcançar as metas climáticas de longo prazo.
A quebra na economia mundial afetou principalmente a procura pelo petróleo, o que, por sua vez, limitou as emissões de combustíveis fósseis que contribuem para a atual crise climática. E isso, à partida, pareceria bom. Mas o declínio acentuado no mercado de petróleo pode também minar as transições energéticas limpas, reduzindo o impulso das políticas de eficiência energética, significando uma desaceleração na transição de energia limpa no mundo.
Ainda assim, a pandemia e o colapso dos preços do petróleo oferecem uma oportunidade para considerar uma nova abordagem que viabilize a transição energética de forma sustentável, com uma colaboração verdadeiramente global que ajude também na recuperação.
O investimento em larga escala para impulsionar o desenvolvimento e a implantação de tecnologias de energia limpa – solar, eólica, hidrogénio, baterias e captura de carbono (CCUS) – será, certamente, a prioridade por parte dos governos. Estes, direta ou indiretamente, impulsionam mais de 70% dos investimentos globais em energia e têm hoje uma oportunidade histórica de os direcionar para um caminho mais sustentável, acelerando a transição de energia limpa e alavancando simultaneamente a economia (a AIE estima que se possam criar 42 milhões de empregos em todo o mundo até 2050 no setor das energias renováveis).
a pandemia e o colapso dos preços do petróleo oferecem uma oportunidade única para considerar uma nova abordagem e viabilizar a transição energética de forma sustentável
ANABELA BENTO
O que se decidir a seguir é crucial para o nosso futuro energético. Alcançar um desenvolvimento económico robusto, sem retomar o mesmo nível de emissões que aconteceram noutras crises anteriores, exigirá que os governos assumam a liderança na procura de saídas para acelerar o desenvolvimento e a implantação de uma gama completa de soluções e tecnologias.
Sabemos bem que a energia é um facilitador crítico da prosperidade e do crescimento económico e que a estabilidade dos mercados globais de energia é essencial para sustentar a indústria moderna e a sociedade. Sabemos também que as principais tecnologias renováveis, como a solar e a eólica, estão cada vez mais evoluídas. A captura de hidrogénio e de carbono necessita ainda de grandes investimentos para se poderem dimensionar e reduzir custos. Também aqui, a economia atual pode ser o motor de financiamento de projetos mais acessíveis, fruto das taxas de juros mais baixas. Os governos podem tornar a energia limpa ainda mais atraente para os investidores privados, fornecendo garantias e contratos para reduzir os riscos financeiros.
Temos, neste momento, a opção de lançar estratégias, reiniciando o sistema e investindo numa recuperação que acelere a transição energética. Uma abordagem sistémica para este processo requer uma ação concertada e simultânea em várias soluções – incluindo as energias renováveis, a eficiência energética, a circularidade da economia, o corte de emissões de combustíveis fósseis e a construção de capital humano para o futuro sistema energético. À medida que as empresas estão a revisitar as suas estratégias de investimento de longo prazo, as perspetivas estão abertas.
Aproveitemos esta oportunidade. O ISQ dispõe de diversos serviços para ajudar a encontrar soluções para esta abordagem sistémica. Ajudemos a fazer deste um mundo mais equilibrado, que promova a estabilidade nos mercados de energia e que valorize a segurança e a sustentabilidade, tornando-o mais equitativo.
Business Development Manager no ISQ. Administradora na dBwave.i Acoustic Engineering. Previamente Diretora da QART.pt e Business Development Project Manager no ISQ Internacional. Doutoranda em Alterações Climáticas e Políticas de Sustentabilidade da Universidade de Lisboa. Formação académica em Engenharia, formação pós-graduada em Gestão de Projetos pela Universidade Católica Portuguesa e WBCSD – World Business Council for Sustainable Development.
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