Por toda a Europa assistimos a esse fenómeno, seja em França ou Itália como também em Portugal, onde a construção no nosso país das fábricas da Embraer, um investimento de 177 milhões de euros, foi sem dúvida um marco importante, conseguindo catapultar Portugal para o mercado internacional da aeronáutica e, paralelamente, para o sector do espaço.
Diversas pequenas e médias empresas redirecionaram o seu foco para o sector internacional da aeronáutica e aeroespacial. Existem boas oportunidades de trabalho em diversas regiões do país junto de empresas que se tornaram tecnologicamente inovadoras e muito competitivas, com níveis de excelência nas mais diversas áreas: desde as áreas do controlo da qualidade e testes, materiais e compósitos, qualidade do ar – nas quais o ISQ opera internacionalmente –, até ao ecodesign, couros e estofos, manutenção de aeronaves, desenvolvimento e fabrico de produto, estruturas aerodinâmicas, entre outras.
O cluster português da aeronáutica e espaço integra já os grandes desafios do sector: “menos peso, melhor performance e mais eficiência para reduzir custos e poluição”, tendo participado e liderado soluções altamente inovadoras de suporte a grandes evoluções mundiais na indústria e serviços.
Estas empresas do cluster necessitam de técnicos altamente especializados, desde o nível 3 ao nível 7 do Quadro Europeu de Qualificações, orientados para áreas de intervenção e necessidades específicas de cada empresa. O sector da aeronáutica e aeroespacial requer “talentos inovadores e especializados”, que extravasam em muito as competências do tradicional Técnico de aeronáutica ou Engenheiro de aeronáutica ou aeroespacial.
Estima-se que nos próximos anos o tráfego aéreo tenha um crescimento médio anual de 4,7%, exigindo 29.220 novas aeronaves, mais modernas e confortáveis, mais eficientes e fiáveis e menos poluidoras. Trata-se de uma crescente oportunidade de inovação, de negócio especializado e de emprego nas mais diversas áreas de especialidade, incluindo em Portugal.
Em dois estudos lançados no início de 2016 pelo Centro de Estudos Europeus para a Formação (Cedefop) e pela Universidade de Antuérpia, concluiu-se que:
• Existe um grande gap entre oferta de competências e procura de competências. Existe uma grave lacuna de competências necessárias para satisfazer as necessidades das empresas empregadoras, competências que não são criadas pelas instituições de ensino e formação apesar do grande nível de desemprego existente na Europa. Com efeito, mais de 38% das empresas não encontra disponíveis as competências técnicas necessárias, sendo esse número ainda mais elevado quando diz respeito ao sector da aeronáutica, cerca de 58%;
• Existem mais de 2,6 milhões de empregos ligados à aeronáutica em toda a Europa, estimando-se que venha a crescer até aos 3 milhões (distribuídos entre empresas ligadas à produção, aos aeroportos, à aviação e manutenção), que exigem uma permanente atualização de competências, incluindo na área da mecânica e mecatrónica, dos compósitos e materiais, da metrologia, testes e ensaios, bem como do controlo da qualidade. Falamos de formação especializada avançada.
• Para além de competências-chave em falta nas áreas da manutenção, materiais, testes e controlo da qualidade, segurança, “competências verdes: ambientais e economia circular”, existem ainda competências-core transversais que não são trabalhadas nem fornecidas pelas instituições de ensino, com impactos negativos quer ao nível do processo de seleção e contratação, quer na evolução de carreiras, nomeadamente resolução de problemas, capacidade para trabalhar em equipas multidisciplinares, empreendedorismo e inovação.
Portugal deu os seus primeiros passos na formação para o sector da aeronáutica sobretudo na formação inicial de nível 4, desenvolvida pelo IEFP. Existe ainda educação universitária de qualidade, principalmente ao nível da engenharia mecânica.
Se queremos crescer e queremos ser inovadores, com ofertas formativas globais ajustadas a um cluster europeu e internacional, que necessita de competências globais, temos que ter presente as boas práticas e boas soluções formativas de referência europeia, sustentadas em espaços de formação prática, com equipamentos modernos. Em França existem 16 referenciais de qualificação para o sector da aeronáutica e um forte investimento em formação contínua, em parceria com as empresas e com as entidades de desenvolvimento do território.
O ISQ tem apostado na formação contínua, na formação avançada em áreas de nicho com base em necessidades que ausculta nas empresas e nas regiões, visando capacitar e, sempre que necessário, certificar. São exemplos disso, diversos workshops em manutenção aeronáutica, movimentação mecânica de cargas, planos de emergência, segurança, medidas de autoproteção, simulacros, soldadura e tecnologias de ligação, ensaios não destrutivos, metrologia, tecnologias de materiais e materiais compósitos ou sobre metodologias como o Balanced Scorecard específico para este sector, entre outros.
Para além de cursos de formação e dos projetos de I&D com entidades represen-tativas deste sector em Portugal que são nossos clientes e parceiros (Embraer, OGMA, PEMAS, AED, Alma Design, Ana Aeroportos, Gestair, INAC, AFAP, entre outros), o ISQ tem colaborado também na estratégia de capacitação do IEFP, nomeadamente ao nível da padronização e modernização dos espaços de formação dedicados à aeronáutica, visando uma maior multifuncionalidade, eficiência e capacidade de adaptação just in time às emergentes necessidades do mercado.
Em Portugal precisamos de apoiar mais o crescimento célere deste sector, nomeadamente criando uma força de trabalho, sólida, inovadora e sustentável, numa estreita parceria com as necessidades das empresas, ao abrigo de um diálogo com as partes interessadas do sector, num cenário prospetivo internacional e regional. Este diálogo para o emprego é um dos eixos da Responsabilidade Social e do Crescimento Sustentável: os centros de formação públicos e privados, empresas fabricantes e fornecedores de serviços, autoridades e Centros de Investigação deveriam ter uma estreita cooperação e colaboração, sendo o sector da aeronáutica uma excelente oportunidade para unir forças, motores de influência e de interesses, rumo ao crescimento, rumo ao céu e ao espaço! Temos que apostar em formação e qualificações que consigam colmatar gaps de competências e talentos de jovens e de adultos que já estão neste sector ou que pretendam nele trabalhar. Esta aposta deveria ser ao nível nacional, com enfoque regional, associada a certificações nacionais, internacionais e sectoriais, de acordo com as linhas de crescimento europeias e as metas de crescimento para cada país. E, claro está, nessa mesma linha e seguindo as prioridades estratégicas para a formação e emprego definidas na Convenção de Riga e na Declaração Europeia: “Novas prioridades para a cooperação na formação e educação: estratégia Europeia 2020”.
Da experiência de trabalho internacional do ISQ para os sectores da aeronáutica e aeroespacial nasceu a consciência absoluta que existem muitíssimas competências comuns em falta em ambos os sectores, sem fronteiras demarcadas: formar para a aeronáutica cria com certeza competências para o sector aeroespacial, o qual, nos dias de hoje e num futuro próximo, integrará parte do sector das telecomunicações, incluindo o controlo da qualidade, testes e ensaios, interoperabilidade, etc., no qual o ISQ tem fortes competências e é também um Centro de Excelência Europeu ITU (International Telecommunication Union).
Acreditamos que se trabalharmos em conjunto e concertadamente para este cluster Aeronáutica e Espaço com as autoridades nacionais e regionais, incluindo os gestores dos Quadros de financiamentos públicos para o desenvolvimento, podemos melhor formar, melhor qualificar para melhor trabalhar e… Voar!